História da origem do cimitério da localidade de Santa Luzia -SFI-RJ

 

TEXTO DO LIVRO SERTANEJAS DO ESCRITOR JOSÉ ESTEVÃO

    Estava sentado na sombra de uma figueira enquanto Dermeval e Cruz, num movimento ritmado, serravam uma enorme oiticica. Chegou Antonio Ribeiro na sua mulinha magra, arreios remendados com cordão. Apeou, sentou num tôco de sôbro, e conversa vai, conversa vem, começou o velho Ribeiro: — Quem sabe de sua história sou eu… Fazenda Velha.

    O velho Juquinha Brito foi o cobra do Sertão. Quando ele era autoridade chegou um bando de ciganos para Santa Luzia, e com sua valentia plantaram o terror para os sertanejos: roubavam galinhas, porcos, carneiros, e até lavouras dos habitantes da região.

Ilustrado com IA

    Aqui em Sant’Ana naquela raia de que ainda existem vestígios até hoje, num domingo de parelhas os tais ciganos tiveram tremenda contenda com seu Juquinha. Para que eles fôssem expulsos do lugar vieram 4 soldados e um cabo. Depois de forte tiroteio todos os policiais foram mortos pelos ciganos e jogados em um estaleiro velho, isto lá em Santa Luzia.

    Seu Juquinha requisitou 100 praças que chegaram às quatro horas da madrugada, e iniciaram o fogo cerrado. A casa onde estavam os ciganos foi destruida à balas. Esteios de graúna lascados por todas as faces, não ficou nem uma telha sem ser quebrada. Mas na hora de examinarem os corpos não encontraram o chefe do bando, o cigano Bragança. Saíram à sua procura e foram prendê-lo em Santo Amaro, já atravessando o Itabapoana com destino ao Espírito Santo. Veio prêso para Santa Luzia e foi fuzilado sumàriamente.

    Por falta de cemitério foram sepultados no campo. Nêste local Juquinha Brito empreitou com o Estado, e o seu genro Maneco Campos (Manoel Carlos de Campos) construiu o cemitério de Santa Luzia. De início ninguém quis sepultar seus entes queridos nêste local, por que alí estavam os ciganos. Só depois que celebraram missa campal e benzeram o cemitério, é que foram serenados os ânimos.

E o Juquinha venceu mais outra parada…

Com a morte dos ciganos
E a execução do Bragança
Terminou a tempestade
Veio depois a bonança.

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