Em 1916, quando o imperador da Áustria e rei da Hungria, Francisco José I, deixava este mundo, assim como o autoproclamado imperador da China Yuan Shikai, que deixou Li Yuanhong subir ao poder e restabelecer o Regime Republicano, no Brasil nascia Maria Benedita Conceição, em Deserto Feliz, localidade de São Francisco do Itabapoana, no Norte Fluminense. Atualmente moradora de Morro do Coco, distrito de Campos dos Goytacazes, Dona Maria completou um centenário de vida, na última semana — especificamente na terça-feira, dia 15 de março. Numa entrevista que ela condeceu à Folha da Manhã, num bate-papo em que mostrou muita perfeição cognitiva, Dona Maria Benedita afirmou não saber se é a pessoa mais velha de Campos, mas disse ter certeza de que se divertiu muito na festa de seus 100 anos que seus oito filhos — quatro meninos e quatro meninas — realizaram no último domingo, em Morro do Coco.
![]() |
Foto: Arquivo Pessoal |
— Graças a Deus, fiz 100 anos de idade! Deus é quem decide quantos anos uma pessoa vai viver. Minha saúde está boa — sinto, apenas, um pouco de dor nas pernas, mas... eu não paro, né?!; fico andando o tempo todo! Não gosto de ficar parada, não. Faço tapetinhos de fuxico e roupas pros meus netinhos. Tenho vontade de passar a mão na enxada e ainda capinar, mas não dá. A festinha (no domingo) foi muito legal. Teve muita comida, bebidas, doces. Ainda dancei um forró com meu filho caçula! — contou Maria.
No domingo, durante a manhã, a comunidade católica de Morro do Coco dedicou uma missa aos 100 anos de idade de Maria Benedita. A festa comemorativa, por sua vez, foi promovida na Escola Municipal Lulo Ferreira de Araújo, que fica no distrito, e reuniu pessoas da comunidade e familiares de Maria. A mulher que carrega em sua trajetória a atuação de parteira — que durou muitos e muitos anos —, tem descendência indígena, como mostra sua pele, cabelo e traços faciais e como contou um de seus filhos, Sérgio Azeredo, de 47 anos.
— Ela atuou, durante muito tempo, como parteira, e só parou porque nós — seus filhos — pedimos. Ela está muito bem de saúde. Todos nós fomos nascidos na roça, onde crescemos e onde minha mãe sempre trabalhou. Nós não sabemos se ela é a pessoa mais velha de Campos. Ela é descentendente de índios. Hoje em dia, faz tapetes de retalhos de panos — os chamados “fuxicos” — comentou Sérgio. Maria Benedita tem mais de 20 netos, mais de 15 bisnetos e 13 tataranetos; e, na entrevista à Folha, lembrou de um tempo em que as pessoas moravam muito mais em zonas rurais do que em grandes cidades.
— Todo mundo fica admirado por eu ter chegar a 100 anos de idade. Eu sempre fui criada na roça, com muita fartura, sem remédios. Meus filhos e eu comíamos muito arroz, feijão e milho. Sinto saudade de plantar pra comer, como era antes. Peço muita saúde a Deus. Graças a Ele, não tenho um inimigo — disse Dona Maria, falando da sua opção religiosa. “Vou sempre à Igreja Nossa Senhora da Penha. É uma igreja católica. Vou sozinha, vários dias da semana. E, no domingo, quando não vou pela manhã, vou à noite”, contou.
FONTE:FOLHA DA MANHÃ